Tecnologia da embalagem logistica

Conceitos gerais

Vamos iniciar definindo os termos usados no título. O que é tecnologia? O que é embalagem? O que entendemos por tecnologia? Vejamos esse esquema:

Esquema

A Ciência — conhecimento e processo de conquista de conhecimento — e a Tecnologia — que envolve Pesquisa, Desenvolvimento, Engenharia e Normalização — vão conduzir a produção e distribuição de bens e serviços seguindo uma busca de otimização. A otimização se faz por comparação de alternativas de projeto selecionando-se a que tem maior relação qualidade / custo. Quando falo em Engenharia, pode haver aí um vício profissional, pois devemos incluir no conceito a arquitetura e a arquitetura do produto industrial, vulgarmente chamada de design.

A otimização leva à inovação e a experiência acumulada alimenta a ciência e tecnologia, retornando o ciclo, que se realimenta.

Vejamos o outro termo do título: Embalagem

A embalagem é uma interface entre o produto e o ambiente de sua distribuição, com funções de contenção, proteção e comunicação (ver figura) a serem cumpridas com a máxima relação Qualidade / Custo. Só nessa frase já há muito a definir.

Esquema

O produto é qualquer coisa que tenha que ser embalada. Uma amostra de fezes é um produto, se tiver que ser enviada a um laboratório de análises clínicas — e um produto com sérios problemas de embalagem, como veremos ao tratar de embalagens para produtos perigosos. O lixo é um produto a ser embalado, também com problemas sérios, principalmente se for lixo atômico ou tóxico. O produto industrial é algo que tem um valor a ser preservado durante o processo de distribuição, valor resultante do trabalho social realizado em sua produção.

O ambiente da distribuição tem dois campos: o da distribuição social e o da distribuição física. O ambiente de distribuição social tem a ver com aspectos econômicos, culturais e políticos, a serem estudados por especialistas em economia, mercadologia e legislação, não sendo esse nosso campo nesta apresentação. O ambiente da distribuição física aborda os aspectos de movimentação, armazenagem e transporte, que vamos ver aqui.

O conceito de distribuição é amplo: inclui a distribuição de produtos diversos e até a operação logística com um único produto, como a exportação de uma única máquina, por exemplo.

Devemos observar que estes ambientes de distribuição não são os únicos a serem enfrentados pela embalagem. Há, ainda, o ambiente de produção da embalagem, com seus impactos ambientais. O de embalamento, com problemas de “machinability”, por exemplo. Há o ambiente de uso, requerendo certas características de projeto, como facilidade de abertura e fechamento, em certos casos. E há o ambiente final, de descarte, com novos impactos ambientais, que iremos estudar.

Quanto às funções, vejamos. Contenção refere-se a diversos níveis de contenção: embalagem primária, que está em contacto direto com o produto, embalagem secundária, etc.. Vamos, adiante, tratar das características significativas dos produtos, para efeito de projeto da embalagem. Proteção é um termo de dois sentidos: o produto deve ser protegido pela embalagem contra os perigos do ambiente e o ambiente deve ser protegido contra os perigos do produto, no caso de produtos perigosos. Esses perigos serão abordados adiante. Comunicação também é um termo de dois sentidos: há a comunicação objetiva, a informação que deve ser trazida pela embalagem, e a comunicação subjetiva, que tem a ver com a estética e com as conotações estudadas pelos marqueteiros — há literatura específica.

Agora chegamos a definições mais gerais: qualidade e custo. Em princípio, contrariando tudo o que vocês já viram em tantos cursos sobre qualidade, temos a afirmar que a qualidade não interessa! Antes que me mandem um e-mail desaforado esclareço: o que interessa é a relação qualidade / custo. (Há autores que inserem o custo no conceito de qualidade, mas acho isso confusionista: é melhor separar as coisas para melhor analisar o conjunto). Não adianta ter uma excelente qualidade, porém a um custo que a inviabiliza.

Vamos tratar, em um próximo artigo, dessa relação Q/C; agora voltamos às definições. Qualidade é a conformidade às especificações, desde que estas tenham qualidade. Espero estar sendo mais confucionista que confusionista. Confúcio pregava o aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade através do amor à experiência e ao trabalho bem feito, e isso tem tudo a ver com a qualidade. Primeiro é preciso, então, definir o que é a qualidade de uma especificação.

A especificação deve tomar a forma de uma norma técnica. O que deve ser especificado são as características exigíveis, de comportamento, com um nível razoável de exigência. Um nível muito severo aumenta os custos (em nosso caso, da embalagem) e um nível muito pouco severo também pode aumentar os custos por levar a perdas e danos, por insuficiência de embalagem. Então, a norma de especificação deve atender ao princípio da razoabilidade (um tanto subjetivo, por mais que haja estudiosos em análises de custos e riscos).

A especificação deve indicar, também, o método de análise, teste ou ensaio a ser adotado para verificar se ela está ou não sendo atendida. A qualidade da norma que define esses métodos é, então, fundamental. Trataremos adiante desse problema. Em termos mais amplos, a especificação não deve cobrir apenas o desempenho, que é o comportamento no cumprimento das funções. Há outros comportamentos importantes, como vimos, como os de impacto ambiental, por exemplo. A qualidade, em seu sentido mais amplo, envolve, portanto, o conceito de qualidade de vida e do ambiente natural. Trataremos, adiante, dos sistemas de controle da qualidade nos níveis social e empresarial, e até individual.

Se complexo é o conceito de qualidade, mais ainda é o de custo. Note-se que não se trata, aqui, do custo da embalagem, que poderia estar associado a seu preço, mas do custo do processo de distribuição vinculado à embalagem. Os custos de perdas e danos são de difícil avaliação, pois há diversos custos não contábeis, como o da perda de mercados, da imagem da empresa e até do país exportador. Meus amigos das seguradoras têm formas específicas de definir valores, com uma metodologia própria que eu desconheço.

No próximo artigo tratarei do critério a ser utilizado para julgar se um custo é ou não razoável.